Neguinho

Esse gesto não foi feito para entreter.
Foi uma resposta.
✦ Performance em silêncio. Ruído em movimento. "Neguinho" não é o nome da obra. É o nome que te dão antes de você ter um. É o afeto disfarçado que vem junto com o filtro. É o elogio que embute lugar.
Essa performance nasceu como gesto político e íntimo. Foi construída em silêncio — e esse silêncio não é vazio: é a ausência de aplauso, de trilha, de proteção. É o silêncio que grita quando o corpo preto ocupa sem sorrir.
Gil atravessa três figuras — o funkeiro, o negro sexualizado e o executivo — não como personagens, mas como camadas que lhe foram impostas. Ele performa para mostrar o peso da performance esperada.
E enquanto tenta subir — pelo pole, pela escada, pelo esforço — o que se vê não é ascensão. É exaustão.
A escada não falha. Ela foi projetada assim. Degraus "neutros", retos, limpos — mas jamais retos para corpos desviantes.
A ausência de som cria uma outra presença: a de Fanon, sim. Mas também a de Abdias. E, mais ainda, a de todos que tentaram subir com dignidade e foram interrompidos pela expectativa de docilidade.
"Neguinho" é uma pergunta sem interrogação. É manifesto coreográfico, é ensaio sobre o silêncio e sobre o cansaço. Mas também é espaço de dúvida:
E se a gente recusasse todas as máscaras — o que sobraria?
✧ Assista à performance completa: