Gil Sant'Anna Jr.

Neguinho

Performance Neguinho - corpo suspenso em barra vertical com escada ao lado

Esse gesto não foi feito para entreter.
Foi uma resposta.

Performance em silêncio. Ruído em movimento. "Neguinho" não é o nome da obra. É o nome que te dão antes de você ter um. É o afeto disfarçado que vem junto com o filtro. É o elogio que embute lugar.

Essa performance nasceu como gesto político e íntimo. Foi construída em silêncio — e esse silêncio não é vazio: é a ausência de aplauso, de trilha, de proteção. É o silêncio que grita quando o corpo preto ocupa sem sorrir.

Gil atravessa três figuras — o funkeiro, o negro sexualizado e o executivo — não como personagens, mas como camadas que lhe foram impostas. Ele performa para mostrar o peso da performance esperada.

E enquanto tenta subir — pelo pole, pela escada, pelo esforço — o que se vê não é ascensão. É exaustão.

A escada não falha. Ela foi projetada assim. Degraus "neutros", retos, limpos — mas jamais retos para corpos desviantes.

A ausência de som cria uma outra presença: a de Fanon, sim. Mas também a de Abdias. E, mais ainda, a de todos que tentaram subir com dignidade e foram interrompidos pela expectativa de docilidade.

"Neguinho" é uma pergunta sem interrogação. É manifesto coreográfico, é ensaio sobre o silêncio e sobre o cansaço. Mas também é espaço de dúvida:

E se a gente recusasse todas as máscaras — o que sobraria?

Assista à performance completa: